quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Restaurante O.Noir, em Montreal: super divertido (mas a comida....)


Por Beatriz Tasso Fragoso, colaboração especial

Sabe o que é esta “foto” aí em cima? Sou eu, jantando com minha amiga Stephanie no O.Noir, um restaurante maluco em Montréal. Você não vê nadinha porque, como o nome do lugar indica, lá come-se mesmo no noir, ou no escuro – literalmente! Os garçons, cegos, conduzem os clientes até suas mesas, onde o jantar é servido na escuridão total.

A idéia não é nova: em 2001 o Unsicht-Bar já fazia o mesmo em Colônia, na Alemanha. E Paris também tem o seu restaurante-breu, chamado Dans le Noir. Mas mesmo o Onoir não sendo o precursor da onda, eu estava louca de vontade de ir jantar lá e sentir, na própria pele, como é comer no escuro.

Foi hilário. Para começar, era noite de Halloween – a cidade toda enfeitada com teias de aranha, caveiras e esqueletos. O bar de entrada, este sim, iluminado, já dava medo: a trilha sonora mesclava sons de serra elétrica decepando gente, chuva, uivos de lobo e aqueles violinos de filme de suspense. Os clientes que chegavam liam o menu e escolhiam o que queriam comer. Depois colocavam seus pertences em vestiários, trancavam com cadeado e esperavam o garçom (cego) vir buscá-los para levá-los até suas mesas. Fizemos o mesmo e pedimos um drinque para a garçonete, que vestia chapéu de bruxa.

Stephanie apoiou a mão no ombro do garçom, e eu no ombro dela e passamos do claro ao escuro, os ambientes separados por duas cortinas pesadas de veludo. Fomos nos sentar, conduzidas pelo garçom, em fila indiana, dando passinhos curtos – e segurando a risada. Que piada de lugar! Os olhos custavam a se acostumar.

Quando ele nos trouxe o pão e a manteiga, foi “mostrando” onde estava colocando tudo, gentilmente levando nossa mão até cada objeto. Pouco adiantou: mal ele virou as costas, o pão da Stephanie saiu voando, eu meti o dedo na manteiga e caímos na gargalhada. Beber água, então, era uma dificuldade, o vidro batendo contra os dentes, sem acertar o alvo.

Chegaram as entradas: carpaccio para mim, e “surpresa” para ela. A surpresa era uma salada verde, dificílima de ser comida no escuro. Meu carpaccio veio sem parmesão – falha indesculpável – mas estava gostoso. Fui tateando com o garfo, depois com os dedos, tentando descobrir onde estava a comida. Mais difícil que encher o garfo era levá-lo à boca: espetei a bochecha umas vinte vezes, e deixei cair montes de comida no colo e no chão. Era como se fôssemos dois bebês, pondo a mão da comida e derrubando tudo. Ainda bem que ninguém estava vendo…

Os pratos principais eram ainda mais complicados de comer. Eu tinha que cortar minha vitela em pedaços que coubessem na boca: desisti da tarefa depois da quinta tentativa frustrada. O tempero – limão, pimenta-do-reino e gengibre – estava forte demais e me fazia engasgar. Comi dois rabanetes e um pouquinho do purê de batatas que veio ao lado e pronto. Era mais divertido ficar dando risada com Stephanie, tentando adivinhar quem estava à nossa volta e que cara teria o lugar com as luzes acesas. Batemos papo com o casal jovenzinho à nossa frente, que celebrava aniversário de namoro. Estavam nas nuvens, adorando o climinha afrodisíaco.

Aos poucos, a trilha sonora de filme de horror foi se tornando repetitiva, e aquele breu todo acabou dando sono. Além de cochichos, só ouvíamos o garçom – ele era um só – indo e vindo com pratos e copos, repetindo, roboticamente, “attention”, “attention”, para abrir caminho. As sobremesas estavam tão ou mais medíocres que o resto da comida. Demos tchau para os enamorados e, apoiadas de novo no ombro do garçom solitário, fizemos o caminho de volta para o mundo real, rindo sozinhas.


O.NOIR RESTAURANT

1631 Ste-Catherine West

Located between Pierce St. and Guy St.
near Guy-Concordia Metro (Green Line).

Tel.: 514.937.9727

Um comentário:

  1. hahahahahahhahaha

    literalmenteeeeeeee jesus apagou a luz! o rafa, meu marido, já vinha com a propaganda deste, desde quando no brasil! enfim, eu, logo de cara: "Rafaaaaa eu não vou comer num lugar no escuro, sem ver a cara de ninguém! Vou dormir rapidinho!"

    mas valeu pelas risadas! não tenham duvidas de que estamos mais ou como vcs estavam!

    se formos a este, contarei a experiência!
    bjus

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